Como educadora, muito me preocupa quando ouço algum pai se referir a educação infantil como uma parte da vida escolar que não importa muito, porque “afinal é só “brincadeira”. Quando, no entanto, todos os pais deveriam estar advogando pela brincadeira na educação de seus filhos.
Segundo Vygostsky (1989), a brincadeira possui todas as condições necessárias para uma criança se desenvolver. A brincadeira é tudo que as crianças precisam para enfrentarem os desafios emocionais, físicos, cognitivos e sociais e, assim, crescerem de uma forma saudável.
As regras, o faz-de-conta, a realidade alternativa e todos os aspectos do “brincar” são instigantes, estimulantes e trazem o prazer para esse momento. O jogo com regras, por exemplo, ajuda as crianças a desenvolverem o auto-controle, uma vez que tem os limites bem claros e definidos e, para que elas possam fazer parte daquele momento, precisam respeitar o que lhes é apresentado. Esses limites são demarcados pela própria dinâmica do jogo e pelos participantes e não de forma hierárquica.
Tanto a brincadeira espontânea quanto a guiada devem ser valorizadas não só no espaço escolar, mas também nos nossos lares. Brincar é o que as crianças “fazem”! É como se fosse, metaforicamente falando, o “trabalho” delas, porque é através da brincadeira que elas entendem o mundo em que vivem.
E para nossos pequeninos, qualquer coisa pode virar uma brincadeira. A ludicidade está por toda a parte desse mundo paralelo que a criança está sempre buscando: pode ser uma brincadeira com as palavras, com uma música que canta deliberamente errado, no lápis e papel durante a criação de um “monstro”, nas duas cadeiras juntas que viram uma “ponte” (e cuidado com o jacaré que está debaixo). A dificuldade dos adultos é respeitar e entender esse mundo; parece que com a maturidade vem também o esquecimento do quanto é prazeroso e importante brincar. Que bom seria se pudéssemos ter mais brincadeiras no mundo adulto.
E pensando em todos os contextos que a criança passa, Cook (2000) afirma que a brincadeira faz parte historicamente dos seres humanos e enfatiza a sua importância nas aulas de línguas. Então, nas aulas de inglês para crianças tem que ter brincadeira sim e todo um mundo lúdico pronto para recebê-las, só que em inglês.
Vygotsky, L. (1978). Mind in society. Cambridge, MA: Harvard University Press.
Cook, G. (2000). Language play, language learning. New York: Oxford University Press.
Heloísa Tambosi é fundadora da Language in Life. Trabalha com ensino de inglês para crianças desde 1995, formada em letras com especialização em educação infantil e mestrado em ensino de inglês para crianças pela Universidade Federal de Santa Catarina.