Durante toda a minha experiência como educadora em escolas de inglês para crianças, percebi que os pais trazem expectativas para o processo, muitas vezes, esperando o produto final. Mas o importante na experiência de crianças aprendendo uma segunda língua é justamente o processo. Processo esse que precisa ser prazeroso, lúdico e pensado para o universo da criança. Assim, a aprendizagem vem de formal natural, desde que seja significativa.
A criança na primeira infância (0 a 6 anos) ao entrar em contato com uma segunda língua, primeiramente entende o conceito ou a “ideia” que existem outras formas de se expressar, ou outras palavras com outros sons para falar de coisas do seu dia a dia. Daí começa a fazer associações: esse “jeito” (no caso o inglês) é a língua da Dora (dos desenhos), do Mickey ou de algum lugar onde já fui (uma viagem). E começa a perceber que existem outras formas de falar e de pensar.
No contexto de aulas prazerosas e lúdicas, a criança cria essa relação com o inglês e com o professor, começando a receber essa língua (input) sem esforço. E, parecido com o processo da língua materna, precisa primeiro ouvir para começar a reproduzir. Ainda nos momentos lúdicos das aulas, começa prontamente a repetir e nomear palavras. Porque são nesses momentos que o inglês faz sentido para ela. O professor, por sua vez, deve, no decorrer das aulas, demandar produção oral, desde repetir expressões e vocabulário, até sempre responder as perguntas já aprendidas.
O que acontece muitas vezes são situações pós aulas em que os pais perguntam: “O que você aprendeu hoje?” E é muito difícil essa pergunta para a criança: Primeiro, o que é aprender para uma criança de 3 anos, por exemplo? Segundo, a criança vivenciou a língua nos contextos lúdicos, como ela vai conseguir reproduzir isso?
A criança vai falar o que sabe espontaneamente nos momentos que forem significativos para ela.
Uma sugestão é: brincar com ela com massa de modelar, por exemplo e sugerir “dessa vez falar todas as cores em inglês”. Dessa forma, vai ser mais natural. Proporcionar em casa momentos lúdicos para o uso do inglês é, sem dúvida, a melhor forma de estimular a criança a usar tudo que conhece nas aulas.
O que os pais precisam pensar é que proporcionar o contato com uma segunda língua para crianças pode trazer “long-term benefits”, ou benefícios para toda a vida: uma relação com o inglês sólida (porque vai fazer parte da vida dela), um “listening” ou compreensão oral inglês invejável e grande flexibilidade cognitiva.
É muito importante respeitarmos o tempo, a maturidade e a personalidade de cada criança, sem comparações e, principalmente, sem pressões.
As exigências devem acontecer na escolha da escola, porque necessariamente, as aulas precisam ser adequadas a faixa etária e aos interesses das crianças.
- Cameron, Lynne. ELT Journal 57/2: Challenges for the ELT from the expansion in teaching children
Heloísa Tambosi é fundadora da Language in Life. Trabalha com ensino de inglês para crianças desde 1995, formada em letras com especialização em educação infantil e mestrado em ensino de inglês para crianças pela Universidade Federal de Santa Catarina.